terça-feira, 23 de maio de 2023

Estro do Momento

Dá-me aquela canção mais doce 
Tingida de suavidade e vento, 
Que viva toque-me hoje 
Abrandando livremente neste meu pensamento 

Enquanto espectros nele dançam 
E giram, e suspiram, e voam, 
Tão leves no ar avançam 
Ao se soar por lá o som das estrelas qu’ecoam. 

E cadentes sonoram a mover-se serenamente 
Pelo firmamento aceso pela doçura 
Do seu cancionar mágico a envolver movente 
E em voo circundante que em êxtase muito jura 

Jamais querer vir a descer como se fosse isso 
Assim tão possível, todos ora temos 
Que de fato vir ao chão uma hora, pois te digo: 
Tudo é passageiro, e este voo que louco penso 

É tão delírio quanto esta poesia de vão sentido 
Ou um suave vinho inebriante do instante corrido, 

Mas apesar do pesar de tudo vale o breve voo, 
Mesmo se sem sentido ou um pleno motivo ecoo, 
 
Confesso, e confesso, vale o mero breve verso, 
Devaneio, um erro, d’estro, d’inspiração tão perto 

Já do fim, pois é natural dele ser tão derradeiro 
Já que se finda e se vai embora feito veleiro 

Assim feito no vento p’ra não voltar tão cedo. 

Luiz Rosa Jr.